A eficácia da percussão torácica depende da força aplicada na manobra e da rigidez do tórax. Em recém-nascidos e lactentes, sua efetividade é amplamente questionada devido às características anatômicas e fisiológicas dessa faixa etária, o que levanta preocupações sobre sua real indicação e segurança.
Fatores Anatômicos e Fisiológicos na População Pediátrica
O tórax infantil apresenta alta complacência devido à imaturidade do esqueleto torácico, que é composto predominantemente por cartilagem. Isso torna a parede torácica mais flexível, reduzindo a transmissão da força aplicada durante a tapotagem e diminuindo sua eficácia na mobilização de secreções. Além disso, os músculos respiratórios, especialmente o diafragma, ainda estão em desenvolvimento e possuem menor resistência à fadiga, o que aumenta o risco de exaustão respiratória em manobras inadequadas.
Outro fator relevante é a via aérea dos neonatos e lactentes, que é proporcionalmente mais estreita e sujeita a colapsos, especialmente sob pressão negativa excessiva ou manipulações inadequadas. O calibre reduzido das vias aéreas também facilita a obstrução por secreções espessas, tornando essencial a escolha de estratégias que favoreçam sua mobilização sem comprometer a ventilação.
Impacto da Tapotagem e Seus Riscos
Para que ocorra o desprendimento das secreções brônquicas nesses pacientes, seria necessário aplicar uma energia mais intensa do que a utilizada em adultos. No entanto, isso apresenta riscos significativos, como:
Dor e desconforto: devido à sensibilidade da parede torácica infantil.
Fraturas costais: especialmente em recém-nascidos prematuros ou lactentes com doenças ósseas, como a osteogênese imperfeita.
Colapso das vias aéreas: pela elevada complacência torácica, que pode levar ao fechamento dinâmico dos brônquios de pequeno calibre.
Diminuição da eficácia respiratória: se aplicada de maneira inadequada, pode aumentar o trabalho respiratório e comprometer a troca gasosa.
Alternativas Terapêuticas Mais Seguras
Diante dessas limitações, técnicas mais seguras e eficazes são preferidas na fisioterapia respiratória pediátrica, como:
1. Drenagem postural – Utiliza a gravidade para facilitar a eliminação de secreções, sendo amplamente indicada para lactentes com doenças pulmonares obstrutivas.
2. Vibração torácica suave – Aplicada durante a expiração para mobilizar secreções sem causar impacto na parede torácica.
3. Aceleração do fluxo expiratório (AFE) – Técnica manual que facilita a remoção de secreções por meio de variações de pressão e fluxo respiratório.
4. Estimulação da tosse – Essencial para a eliminação efetiva do muco, especialmente em crianças com capacidade de tosse preservada.
5. Aspiração de vias aéreas – Indicada para lactentes incapazes de eliminar secreções por conta própria, mas deve ser feita com cautela para evitar traumas e hipoxemia.
Relevância Clínica e Abordagem Individualizada
A escolha da abordagem terapêutica deve ser baseada na avaliação clínica individualizada, considerando a condição respiratória do paciente, a presença de doenças pulmonares subjacentes (como bronquiolite ou fibrose cística) e a tolerância à técnica aplicada.
Embora a percussão torácica tenha seu papel na fisioterapia respiratória, seu uso em neonatos e lactentes deve ser cauteloso e, na maioria dos casos, substituído por métodos menos invasivos e mais eficazes. A conduta deve sempre priorizar a segurança do paciente e a relação risco-benefício da intervenção.