Antes de abordar as etapas do exame auditivo pulmonar, é essencial compreender como ocorre o deslocamento dos gases no sistema respiratório. Para isso, é fundamental analisar os volumes pulmonares estáticos. A quantidade de ar que entra durante a inspiração e sai durante a expiração em uma respiração normal é denominada volume corrente (VC). Quando uma pessoa realiza uma inspiração máxima seguida de uma expiração máxima, o ar expirado é chamado de capacidade vital (CV). Já o volume de ar que permanece nos pulmões após essa expiração máxima é conhecido como volume residual (VR), enquanto o volume que permanece nos pulmões após uma respiração tranquila é denominado capacidade residual funcional (CRF).
As doenças respiratórias afetam diretamente tanto os volumes pulmonares dinâmicos quanto os estáticos, comprometendo a mecânica respiratória. Com isso em mente, passamos para a próxima etapa, que é essencial para o fisioterapeuta na avaliação das disfunções respiratórias e na escolha do tratamento mais adequado. A semiologia respiratória é composta por quatro etapas principais: exame físico do sistema respiratório, ausculta pulmonar, avaliação de sinais e sintomas e radiografia de tórax.
1. Exame Físico do Sistema Respiratório
O primeiro passo da avaliação é a inspeção, que consiste na observação do tórax sem interferência no padrão respiratório do paciente. Nessa etapa, analisam-se a utilização dos músculos respiratórios, presença de retrações, simetria torácica, deformidades e aumento do diâmetro do tórax. Além disso, é importante verificar a presença de cianose e sinais como baqueteamento digital (hipocratismo digital), bem como deformidades torácicas menos comuns, como pectus excavatum e pectus carinatum.
A inspeção também inclui a avaliação da frequência respiratória, identificando casos de taquipneia ou bradipneia, além da análise do ritmo respiratório, como os padrões de Cheyne-Stokes, Biot e Kussmaul. Também se verifica a presença de sinais de insuficiência respiratória, como taquipneia com uso de musculatura acessória, tiragem intercostal e respiração paradoxal. Esses aspectos serão abordados em detalhes nos capítulos relacionados à fisioterapia em pacientes neurológicos e com insuficiência respiratória.
Após a inspeção, realiza-se a palpação, que consiste na avaliação tátil das estruturas cervicais e torácicas para detectar a presença de contraturas nos músculos acessórios da respiração (como esternocleidomastoideo e escalenos), atrofias, enfisema subcutâneo e alterações nos gânglios linfáticos. A sensibilidade torácica também é avaliada, sendo útil, por exemplo, na investigação de fraturas costais, diferenciando se a dor é de origem palpatória ou não. A elasticidade torácica é analisada posicionando uma mão na região posterior e outra na região anterior do tórax, observando a resistência durante a aproximação das mãos.
A expansibilidade torácica é examinada em diferentes regiões do pulmão (lobos superior, médio e inferior), verificando se há simetria na movimentação e distribuição do ar. Além disso, o frêmito toracovocal é avaliado por meio da colocação das mãos sobre o tórax para perceber a propagação do som através da parede torácica e do parênquima pulmonar, auxiliando na identificação de possíveis alterações.
Na sequência, realiza-se a percussão, uma técnica que permite avaliar rapidamente a presença de anormalidades pulmonares através da propagação do som pelos tecidos. Os tipos de percussão incluem:
Som claro pulmonar: presente em pulmões saudáveis e em condições brônquicas sem comprometimento do parênquima pulmonar;
Macicez: ocorre em casos como atelectasias, pneumonias extensas, infartos pulmonares, tumores, esclerose pulmonar ou derrames pleurais volumosos;
Submacicez: indica presença de líquido ou condensação associada a ar, sem atingir o nível de macicez;
Som timpânico: observado em situações como enfisema pulmonar e pneumotórax, onde há pouca ou nenhuma interposição de tecido pulmonar.
Por fim, a última etapa do exame físico pulmonar é a ausculta, que avalia os sons respiratórios. Os principais sons auscultados incluem:
Traqueal: forte, duro e oco, com alto volume, presente durante toda a respiração (inspiração e expiração);
Bronquial: ouvido sobre o manúbrio esternal, forte, porém menos intenso que o traqueal, com som oco e de alto volume, presente durante todo o ciclo respiratório;
Broncovesicular: auscultado sobre os brônquios principais, de volume médio e presente em toda a respiração;
Vesicular: som mais suave, de baixo volume, predominante na inspiração e no início da expiração, auscultado na periferia pulmonar.
---
2. Manobras Fisioterapêuticas e Benefícios
Após a avaliação, o fisioterapeuta pode empregar diversas manobras fisioterapêuticas para melhorar a função respiratória do paciente. Algumas das principais técnicas incluem:
2.1. Manobras de Expansão Pulmonar
Essas técnicas visam melhorar a ventilação pulmonar e incluem:
Respiração Diafragmática: estimula a ativação do diafragma, promovendo uma ventilação mais eficiente.
Inspiração Fracionada: favorece uma maior entrada de ar nos pulmões, útil em pacientes com hipoventilação.
Expansão Costal Dirigida: melhora a mobilidade torácica e otimiza a distribuição do ar.
Benefícios:
✔️ Aumento da capacidade pulmonar
✔️ Melhoria da oxigenação
✔️ Redução do esforço respiratório
2.2. Técnicas de Remoção de Secreções
Essas manobras auxiliam na eliminação do muco e incluem:
Drenagem Postural: utiliza a gravidade para facilitar a saída de secreções.
Tapotagem e Vibração: estimula a mobilização do muco.
Tosse Dirigida e Huffing: favorecem a expectoração eficaz.
Benefícios:
✔️ Melhora na eliminação de secreções
✔️ Prevenção de infecções pulmonares
✔️ Redução da resistência das vias aéreas
2.3. Técnicas de Reexpansão Pulmonar
Indicadas para pacientes com atelectasias ou comprometimento da ventilação:
Pressão Expiratória Positiva (PEP): melhora a ventilação alveolar.
Inspiração Sustentada Máxima: ajuda na reexpansão pulmonar.
Benefícios:
✔️ Melhora na ventilação alveolar
✔️ Redução do risco de complicações pulmonares
2.4. Exercícios Respiratórios
Atuam na reeducação da mecânica respiratória, como:
Treinamento Muscular Inspiratório: fortalece os músculos da respiração.
Respiração com os Lábios Semi-Fechados: reduz a dispneia e melhora a ventilação.
Benefícios:
✔️ Aumento da resistência muscular respiratória
✔️ Redução da fadiga respiratória