Atlas (C1)
O atlas é a primeira vértebra da coluna cervical (C1) e apresenta uma anatomia única, diferenciando-se das demais vértebras por não possuir corpo vertebral nem processo espinhoso. Seu nome é inspirado no titã grego Atlas, que, segundo a mitologia, sustentava os céus — uma referência direta à sua função de suportar o crânio.
Características anatômicas do atlas:
Arco anterior: representa cerca de 20% do anel vertebral. Em sua face anterior, encontra-se o tubérculo anterior, que serve de ponto de inserção para o ligamento longitudinal anterior e músculos pré-vertebrais. Na face interna do arco está a fóvea dental, uma superfície articular lisa que se articula com a apófise odontóide (dente) do áxis (C2), formando a articulação atlantoaxial medial — essencial para o movimento de rotação da cabeça.
Arco posterior: corresponde a aproximadamente 40% do anel vertebral. Em sua face posterior há o tubérculo posterior, que substitui o processo espinhoso típico. Na parte superior do arco posterior encontra-se o sulco da artéria vertebral, por onde passam a artéria vertebral, o primeiro nervo espinal (nervo suboccipital) e veias vertebrais. Esse sulco pode, em algumas pessoas, ser coberto por uma ponte óssea chamada arco posterior ponticulado (ou forame arcuato), formando um forame ósseo completo.
Massas laterais: são as estruturas mais espessas e resistentes da vértebra, localizadas entre os arcos anterior e posterior. São responsáveis por sustentar o peso da cabeça e contêm duas faces articulares — superior e inferior. Além disso, as massas laterais possuem forames que permitem a passagem de estruturas neurovasculares.
Faces articulares superiores: ovais, côncavas e orientadas superiormente, articulam-se com os côndilos occipitais do osso occipital, formando a articulação atlanto-occipital. Essa articulação permite os movimentos de flexão e extensão da cabeça (como o gesto de "sim").
Faces articulares inferiores: são relativamente planas e se articulam com os processos articulares superiores do áxis (C2), formando parte da articulação atlantoaxial lateral, que, junto com a medial, é essencial para o movimento de rotação da cabeça (gesto de "não").
Processos transversos: são bem desenvolvidos e projetam-se lateralmente. Cada processo contém um forame transverso, por onde passam a artéria e a veia vertebral, além de nervos simpáticos. Esses forames são características exclusivas das vértebras cervicais.
Ausência de corpo vertebral: o corpo do atlas é representado pela fusão com o dente do áxis, o que ocorre durante o desenvolvimento embrionário. Isso contribui para a formação da articulação atlantoaxial e a liberdade de movimento da cabeça.
Funções do atlas:
Sustentação do crânio: atua como uma base sólida para os côndilos occipitais, permitindo que o peso da cabeça seja transmitido ao restante da coluna vertebral.
Movimento articular: participa dos principais movimentos da cabeça — flexão, extensão e rotação — por meio das articulações atlanto-occipital e atlantoaxial.
Proteção de estruturas neurovasculares: abriga e protege porções da medula espinal, raízes nervosas cervicais e artérias vertebrais.
Aspectos clínicos relevantes:
Fraturas do atlas: geralmente ocorrem por compressão axial (como em mergulhos em águas rasas) e podem resultar em fraturas do arco anterior, posterior ou ambas — conhecidas como fraturas em “anel” ou fraturas de Jefferson.
Instabilidade atlantoaxial: pode ser congênita ou adquirida (como em casos de artrite reumatoide), levando à compressão da medula espinal.
Importância cirúrgica: o atlas é uma referência anatômica crucial em procedimentos como a fixação cervico-occipital e cirurgias de descompressão medular.
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